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Pandemia impulsiona startups de saúde e acelera digitalização do setor

A telemedicina ganhou força durante a pandemia. Essa, porém, é só uma das inovações que startups de saúde têm trazido para o setor e apenas o começo do processo de digitalização que está em curso na área.

A opinião é de Rodrigo Demarch, diretor-executivo de inovação e gestão do conhecimento do Hospital Israelita Albert Einstein. O médico foi um dos participantes da 8º edição do seminário Saúde do Brasil, promovido pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 20, com patrocínio da Embratel e da FenaSaúde.

O hospital paulistano, que tem uma incubadora de healthtechs -como são conhecidas as startups de saúde-, viu os atendimentos online crescerem no último ano.

Segundo Demarch, no início da pandemia, 400 mil pessoas eram atendidas pelo serviço de telemedicina do Einstein. Depois de 90 dias, o número saltou para 1,8 milhão.

Para ele, empresas que trazem soluções tecnológicas precisam ter acesso não só a recursos financeiros e físicos, mas também a capital intelectual, ou seja, estar em contato com especialistas para validar suas ferramentas.

“Parte da nossa missão é levar uma assistência de qualidade para todas as pessoas que pudermos, e as startups podem nos ajudar fortemente nesse propósito. Entretanto, são empresas imaturas, que precisam de apoio para se desenvolver”, diz Demarch.

Diretor de uma empresa de investimentos e consultoria, a ACE Startups, Pedro Carneiro diz que o ramo da saúde é fragmentado, o que muitas vezes dificulta a vida do consumidor. “Você tem que correr atrás de um seguro de saúde, depois de um médico. Agendar um exame, pegar as notinhas, pedir um reembolso”, diz ele, que é engenheiro civil.

As healthtechs têm pensado em maneiras de agilizar esses processos e melhorar os serviços. Segundo Carneiro, a ideia é colocar os pacientes no centro, não os produtos.

O crescimento acelerado dessas empresas tem trazido a expectativa de uma competição maior com outros setores, como o de planos de saúde. “As startups podem ser um caminho interessante para as grandes corporações conseguirem trabalhar de uma forma inovadora”, diz Carneiro.

Sobre a regulamentação desses novos negócios, o engenheiro defende regras mais flexíveis, que não prejudiquem o crescimento do setor.

“Assim conseguimos um equilíbrio entre a velocidade de desenvolvimento e a manutenção de uma estrutura regulatória sólida, com opções para poder evoluir.”

Guilherme Salgado, diretor-executivo do grupo 3778, empresa de soluções para serviços de saúde, afirma que, além da preocupação com os clientes, é preciso pensar naquilo que possa facilitar o dia a dia dos médicos. “Precisamos trabalhar com tecnologias e ferramentas que empoderem os profissionais de saúde.”

Para Salgado, um lado bom das novas plataformas é que algumas delas armazenam informações de pacientes, que podem ser compartilhadas entre os profissionais e os serviços de saúde. Segundo ele, a integração dos dados pode ser útil tanto para o setor privado quanto para o público.

Ele cita como exemplo aplicativos criados pelo SUS que guardam informações de exames feitos pelo paciente e outros procedimentos.

Pensando em cybersegurança, Ana Cláudia Ferraz, diretora de vendas da Embratel, diz que a possibilidade de compartilhamento de informações do consumidor pelas healthtechs exige que algumas medidas sejam tomadas.

Para ela, é preciso classificar os dados, ou seja, determinar quais deles podem ser compartilhados e com quem. “Se for preciso divulgar uma massa de dados com uma operadora, por exemplo, uma alternativa é torná-los anônimos.”

Além disso, Ferraz afirma ser importante deixar claro que tudo será feito com o consentimento do cliente, obedecendo a Lei Geral de Proteção de Dados. Ela faz uma analogia com a recente implementação do open banking no Brasil -serviço que permite transitar informações de clientes entre instituições bancárias.

Para Carneiro, da ACE Startups, ainda que seja necessário tomar cuidado com o tratamento das informações, o compartilhamento pode trazer benefícios, como produtos adequados às necessidades do consumidor e descontos.

Sobre o futuro das startups, ele afirma que algumas podem ter queda de receita depois da pandemia. Mesmo assim, acredita que muitas mudanças do período permanecerão. “É um passo para um novo paradigma de mercado que está chegando.”

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