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Bárbara Domingos leva samba para ginástica rítmica em busca da Olimpíada

Todas as medalhas da história da ginástica rítmica em Olimpíadas ficaram com países europeus. Nas Américas, apenas os Estados Unidos têm presença forte nas competições internacionais. Mas aos 21 anos e inspirada em Daiane dos Santos (que fez história pelo Brasil na ginástica artística com a música “Brasileirinho”), a ginasta Bárbara Domingos começa a despontar no cenário mundial. Em 2021, ela aposta no tambor do Carnaval e nos passos do samba para mudar o tom da música.

Medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos de 2019 em Lima, no Peru, Bárbara conquistou o melhor resultado de uma atleta do país na história dos Mundiais mais tarde naquele mesmo ano, em Baku. Nesta sexta-feira (26), ela começa sua participação na Copa do Mundo de Sófia (Bulgária) enquanto o Brasil está desfalcado de sua seleção, que registrou casos de Covid. Na série com a fita, Bárbara estreará uma nova coreografia ao som de samba e um pouco de funk. “Na quarentena, fiquei cinco meses afastada do treino por uma lesão no quadril, e chegou um momento que eu não aguentava mais ficar parada. Meu irmão tem um cavaquinho e aproveitei para aprender. Não deu muito certo, mas, quando voltei a treinar, a gente decidiu trocar a música [da série] e fazer um samba”, conta a ginasta, já na Bulgária e por telefone, à Folha.

O problema foi que ela e sua treinadora Marcia Naves não encontraram um samba que encaixasse perfeitamente com a performance que elas queriam. A solução foi usar a música da série anterior, que lhe rendeu a prata no Pan, chamar uma escola de samba e produtores musicais para compor uma versão inédita.

Bárbara Domingos durante prova da fita no Pan de Lima, em 2019 Pilar Olivares – 3.ago.2019/Reuters Bárbara Domingos fazendo movimentos com a fita durante apresentação no Pan de Lima em 2019 **** A ginasta e sua equipe participaram das gravações no estúdio, mas foi o mestre de bateria da Enamorados, escola de samba de Curitiba (cidade onde ela mora) quem comandou a batucada.

A performance conta ainda com um colã inspirado na roupa das passistas. Para a coreografia, foi necessário inclusive aprender a dançar. “Eu sabia sambar mais ou menos, tanto que, quando a gente chamou a escola de samba, tivemos aulas de samba, para aprender. Porque a gente achava que sabia sambar, mas descobriu que na verdade não”, conta rindo.

Ela lembra que entrou para a ginástica aos 5 anos de idade, à época na modalidade artística. Pouco depois, se mudou para a rítmica. Foi com a fita que encontrou uma conexão maior com a música e com a dança, duas coisas de que sempre gostou. Em busca de uma vaga em Tóquio, qualquer detalhe pode descontar pontos, e por isso o clube de Bárbara, o Agir, investiu até em seus dentes. Em parceria com a Cegin (Centro de Excelência em Ginástica) e com apoio de um patrocinador, ela iniciou um tratamento odontológico específico para sua performance, com alinhadores transparentes, comandado pela especialista Isabela Shimizu.

Bárbara conta que as expressões faciais precisam estar em harmonia com a música da série. Se for um tema mais dramático, adota-se semblante sério. Mas como já diriam Cartola e Elton Medeiros, é a sorrir que o sambista leva a vida. A disputa por uma vaga olímpica deve ser acirrada. A modalidade é completamente dominada por bandeiras do leste europeu. Países que já foram socialistas têm todas as medalhas já disputadas até aqui. Dos nove ouros, dois ficaram com a União Soviética (que acabou em 1991), seis com a Rússia e um com a Ucrânia. Belarus é a única outra nação que já subiu ao pódio, com três pratas e um bronze.

Para estar na Olimpíada do Japão, Bárbara tem dois caminhos. O mais difícil é pelas Copas do Mundo, no qual ela disputa três vagas com atletas do mundo inteiro em quatro etapas até o dia 29 de junho. A alternativa é o Pan-Americano de Ginástica programado para o Rio de Janeiro, em junho, e será classificatório para a competição. A brasileira é a favorita entre as atletas que ainda não garantiram vaga nos Jogos no continente americano. Ela explica que o foco na Bulgária é experimentar pela primeira vez a nova série e fazer os ajustes necessários para as próximas etapas e também para o evento no Brasil.

Em razão da pandemia e do momento que vive o Brasil, pode ser que o Pan do Rio seja cancelado. Se isso acontecer, ela estará automaticamente classificada para Tóquio por ter a melhor pontuação das Américas no Mundial de 2019 -também entre aquelas que ainda não estão confirmadas nos Jogos. A pandemia tem sido um período difícil, relata a ginasta. Além das dificuldades do isolamento, Bárbara também teve uma lesão no quadril. Após um ano e meio sem competir, diz estar retornando à sua melhor forma “um passinho de cada vez” e com toda a cautela do mundo após sofrer um leve estiramento na perna durante a preparação para a Copa do Mundo.

Na competição, o Brasil contará apenas com duas atletas, ela e Natália Gaudio. O restante da delegação brasileira teve que cancelar a viagem às vésperas do embarque para a Bulgária, pois registrou casos de coronavírus durante a preparação no Brasil -Bárbara e Natália não estavam com o grupo. “É bem preocupante, tanto que antes de vir para cá, pensamos muito bem se viajaríamos mesmo. A Bulgária está em lockdown, uma situação difícil. A gente fica com um pouco de receio, não sabemos quando vamos ser vacinados. Temos que nos cuidar, usar máscara e andar com álcool em gel o tempo todo, é o único jeito”, completa.

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