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Com ‘tamo junto’, judoca de bronze divide vitórias e derrotas com a mãe

Daniel Cargnin chegou a Tóquio falando na mãe, combateu pensando nela e a ela dedicou a medalha de bronze, obtida na categoria até 66 kg do judô. Ana Rita acompanhou toda a trajetória com muito orgulho, sentindo-se parte de cada passo da conquista, inclusive a derrota para o japonês Hifumi Abe nas semifinais.

“A frase mais comum do Daniel para mim, uma coisa de que os adolescentes gostam muito, é o ‘tamo junto’. Sempre rio no final das nossas conversas porque elas sempre acabam no ‘tamo junto’. É essa a expressão que vivemos. Porque, se ganha, todos participam. E, se perde, é da mesma maneira”, disse à reportagem a nutricionista.

Aos 23 anos, o judoca já não é exatamente um adolescente e não tem o habitual pudor juvenil de demonstrar apego à mãe, cujos braços procurou antes do embarque ao Japão. Ao fim de uma preparação difícil para os Jogos Olímpicos, com lesões e uma infecção pelo novo coronavírus, ele buscou a força da “mulher guerreira” que vê em Ana Rita.

Essa força, faz questão de dizer ela, vem também das derrotas. Foi por isso que, citada em todas as entrevistas nas quais Cargnin celebrou o bronze em Tóquio, a mãe do medalhista fez questão de falar sobre a derrota para o japonês Abe, não só sobre a vitória sobre o israelense Baruch Shmailov que valeu a presença no pódio: “É importante que ele saiba que não são só conquistas”.

Daniel parece ter compreendido bem essa lição. Na celebração de sua campanha no Japão, lembrou os momentos em que chorou escondido, no banheiro, duvidando de si mesmo. E dividiu o turbilhão de sentimentos que experimentava com aquela que imprimia o calendário de seus primeiros campeonatos.

“Eu fui querendo acompanhar e ajudar a construir com meu filho essa vontade dele de praticar um esporte. E fizemos como a gente sempre faz em casa: procuramos ficar próximos em todas as situações. É assim com a irmã dele também, nas decisões sobre o futuro, estamos sempre conversando. Acaba que as decisões e participações são familiares”, afirmou Ana Rita.

Foi apropriado, portanto, que ela tenha acompanhado as lutas de Daniel nas Olimpíadas ao lado de Alessandra, sua filha, irmã do judoca. Foi coletivo o sofrimento do momento em que o gaúcho conseguiu o wazari que lhe deu vantagem na luta pelo bronze até o encerramento do equilibrado duelo.

“Foi muito, né? Aqueles 57 segundos não passavam nunca”, recordou a mãe do judoca, que teve a gentileza de atender à reportagem da Folha ainda longe de colocar o sono em dia.

Separada do pai de Daniel desde que o agora medalhista olímpico era um bebê, Ana Rita tem hoje uma boa relação com ele, que propôs uma grande recepção ao atleta no Rio Grande do Sul. No retorno ao Brasil, o judoca ganhará uma festa.

Mas o que precisava ser dito já foi falado na ligação feita pouco após a luta decisiva: “Tamo junto”.

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