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Do lockdown à Libertadores, Ferroviária se destaca na gestão do futebol feminino

O comunicado da Ferroviária em sua rede social pedia que o torcedor não fosse recepcionar a equipe bicampeã da Libertadores Feminina na chegada a Araraquara, nesta segunda-feira (22). A cidade no interior paulista (273 km de São Paulo) está entre as primeiras do país que adotaram o lockdown, ainda em fevereiro, permitindo de início apenas o funcionamento de farmácias e unidades de saúde.

A preocupação do clube evidencia o carinho da população pelas “guerreiras grenás”, além do receio com um novo colapso no sistema de saúde local. O time feminino tem uma sala de troféus de fazer inveja ao masculino, com quatro títulos estaduais, uma Copa do Brasil, dois Brasileiros e duas Libertadores.

Fundada em 1950, a Ferroviária é uma tradicional agremiação do interior do estado e, em 2003, transformou-se em clube-empresa (Ferroviária S/A). O departamento de futebol feminino foi constituído em 2001. “Esse projeto começou com a prefeitura há 20 anos, a cidade abraçou e continua nos dando suporte. Temos um orçamento [com verbas] de patrocínio e investidores”, afirma Carolina Melo, coordenadora da modalidade na Ferroviária.

A pandemia, no entanto, afastou o público dos jogos da equipe. Além disso, o lockdown anunciado pelo prefeito Edinho Silva (PT), como forma de conter a disseminação do coronavírus, fez com que o time feminino da Ferroviária passasse a treinar em Sumaré, a quase 170 km de sua sede, antes da estreia na Libertadores, no dia 5 de março, na Argentina.

A concentração forçada teve saldo positivo, na avaliação da comissão técnica. “A dificuldade na pandemia é para toda sociedade, e o futebol faz parte dela. Sofremos também, Araraquara é a nossa casa e, infelizmente, a cidade passou por momentos dificílimos recentemente. Vem se recuperando devagarzinho”, diz Carolina. “Fomos muito bem recebidas em Sumaré.”

Na Libertadores, a Ferroviária eliminou o River Plate (ARG) nas quartas de final e a Universidad de Chile (CHI) na semifinal, com a goleira Luciana defendendo três cobranças de pênaltis, depois de só conseguir avançar ao mata-mata graças ao saldo de gols na fase de grupos.

Na decisão do título, o time paulista levou a melhor sobre o América de Cali (COL), com vitória por 2 a 1 para conquistar a Libertadores pela segunda vez –antes havia levantado a taça em 2015. Desta vez, com o feito de Lindsay Camila, a primeira mulher a ser campeã como técnica da Libertadores, competição disputada desde 2009.
“Essa história de ser a primeira mulher eu prefiro deixar de lado. Penso na minha equipe e no campeonato que ganhamos juntos”, declara Lindsay. “Tivemos atitude e grupo. Soubemos jogar a Libertadores e por isso fomos campeãs.”

A treinadora assumiu em janeiro deste ano o lugar de Tatiele Silveira, que já havia sido a primeira técnica a conquistar o título do Campeonato Brasileiro, com a campanha de 2019. Em dezembro do ano passado, o clube anunciou a saída de Tatiele como parte dos planos de reestruturar o departamento de futebol feminino e investir na formação de atletas. Para conduzir esse processo, a diretoria contratou Lindsay, que estava como auxiliar da seleção brasileira sub-17.

Não é à toa que Tatiele e Lindsay têm quebrado barreiras na modalidade. Faz parte da filosofia do clube grená priorizar a contratação de mulheres para administrar o esporte. “Essa conquista é extremamente importante para o clube porque vem investindo na modalidade e sendo pioneiro muitas vezes na profissionalização das atletas, nas oportunidades para mulheres na comissão e na gestão”, diz Carolina, contratada pela Ferroviária em dezembro de 2019. Ex-goleira, ela atuou no São Paulo e nos Estados Unidos, é formada em administração e possui doutorado em gestão de negócios. “A Ferroviária fez uma base lá atrás e tem ajudado muito no crescimento da modalidade no Brasil, o que garante resultado e títulos em campo também.”

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