Religião

Conselheiro-maravilhoso, Deus-forte, Pai-eterno, Príncipe-da-paz (Is.9,6)

Por Padre Fábio

Com estas palavras o profeta Isaias, no capítulo nove, identifica o menino que deve nascer realizando as profecias e alimentando as esperanças em favor de um povo sofrido, desesperançado e sem perspectivas. Este será o libertador, o Messias prometido. E é essa a situação de trevas e escuridão numa terra sombria e de um povo entristecido por uma vida vivida no exílio, praticamente como escravo.

O profeta diz que o povo andava nas trevas. Quando se caminha na escuridão, qualquer caminho serve, porque todo o caminho não leva a lugar nenhum. As trevas cegam os olhos e confundem a mente, e isto faz com que se tenha a sensação de estar perdido e sozinho. O medo e a angústia serão a sua companhia. Permanecer assim se torna insuportável. Por isso é preciso arriscar dar passos, mesmo que tateando a cada centímetro sem saber se está na estrada certa ou à beira de um abismo.

Andar às tontas, andar a esmo, andar sem rumo definido é o que define o caminhar daquele que não tem discernimento diante das situações e circunstâncias da vida quando este é incapaz de enxergar os valores que a própria vida lhe apresenta. E viver num mundo e numa sociedade que, a cada dia, se torna surda e insensível à Palavra, e por isso perde os valores da fé que desperta o amor, a fraternidade, o respeito pelo outro e o despertar de direitos e deveres, é ter uma experiência concreta deste caminhar nas trevas.

Daí a necessidade de uma busca constante da Luz que foi revelada a nós quando ainda o profeta nos diz com alegria: “…uma luz raiou para os que habitavam uma terra sombria…” (Is.9,1) Esta é a Luz que nos dá o discernimento sobre toda a realidade do homem e de toda a sociedade em busca do verdadeiro sentido da vida. Esta Luz é o Cristo Senhor, homem e Deus em plenitude, que assim se revela: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”.(Jo.8,12).

Ele é o Conselheiro maravilhoso. Dele é que nasce a sabedoria para construir uma sociedade mais justa e um mundo onde as pessoas podem se sentir no caminho que leva à plena realização e ao aprendizado da verdadeira construção da paz. Onde justiça e paz serão sinônimos de uma real fraternidade, onde a igualdade não será apenas a busca de uniformidade de costumes e comportamentos, mas respeito aos valores individuais que enriquecem a convivência e expressam a amor e a comunhão, expressão do bem comum.

Nele é revelado o Deus forte, Pai eterno, que se voltou para a humanidade sem considerar a sua fragilidade e toda a sua pobreza. É com Ele, e apenas Nele, que podemos encontrar a verdadeira segurança, porque não vem da força ou do poder que oprime e engana, mas do verdadeiro conhecimento do que está no coração de cada homem
Nascendo pobre e humilde Ele, o Príncipe da paz, nos aponta o verdadeiro sendeiro da paz que é almejada por toda a humanidade, e de maneira particular por todos nós, em nosso país que vive hoje uma experiência de divisão alicerçada em ideologias, radicalismos e partidarismos.

E a consequência disso é a visão distorcida de que o outro não é meu semelhante, e, muito menos meu irmão, que comunga comigo da mesma realidade humana, porque é gente e faz parte da mesma caminhada desta vida, mas é sempre um adversário, um inimigo a ser excluído, derrotado, destruído. A paz, por Ele oferecida, é um bem precioso que significa não só uma convivência pacífica com o próprio semelhante, e que numa sociedade descomprometida pode ser até sinônimo de indiferença pelo que acontece ao seu redor, mas sim um empenho de realização de um mundo novo, inclusivo, uma missão inerente ao próprio existir com o outro, por habitar juntos uma casa comum que é a nossa querida Terra.

Sejamos, portanto, construtores deste mundo novo, a partir da realidade de cada um, de cada família, do seu próprio meio e ambiente, onde justiça e paz não necessitem de armas que supostamente as possam sustentar, mas, sim, de uma vida onde “Amor e Verdade se encontram, Justiça e Paz se abraçam, pois da terra germinará a Verdade, e a Justiça se inclinará do altos céus” (Sl 85).

Pe. Sebastião Fábio Girolamo é Vigário Geral e pároco na Paróquia São Crispim.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo