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Lulu do Canavial e o Milagre de Natal – Parte IV

Inhaim?

Gente, mas que chiquetê. No domingo vai ter festa e eu vou entortar o caneco. A supervisora da turma do Papai Noel vai organizar uma confraternização pra turma. A Pália Pólia, Púlia dos Guimarães Peixoto, que a gente chama de Peinha, convidou as mamães noéis e o Papai Noel “Plabo” para a festa. Será no domingo e eu vou ter que viajar. Uhuuuuuu. Vou levar a Lolsa comigo. Vai ser no Restaurante Boi Bão, no bairro Marambaia, com cada um pagando a sua conta. Peinha convidou o segurança que eu estou de olho, o Letsgo Daqui. Era minha hora. Ia ficar livre daqueles catarrrentoss pelo menos um dia e, quem sabe, dar.

Peguei minha fraqueira, coloquei meu vestido de tubinho roxo (cor de caixão de defunto de pobre no tempo do Natan), sandália de salto rolha, esmalte rosa (minha unha tava parecendo de tamanduá), calcinha rachada vermelha. Minha manicure, a Hipotenusa, aquela que tira mais bife do que o açougue do Pintinho, pintou, calcanhar rachado, cinta barrigueira com uma fivela Hello Kity, brinco laranja de lantejoulas, gargantilha de veludo bordado o meu nome: Lulu (copiei do Ike). Fui bem maquiada como sempre com minha sombra nova de glitter roxa (pra combinarf com o vestido), cílios postiços, chapinja no cabelo. Meu vestudo estava mais justo que as leis de Deus.
Fomos no meu Corcel. O João da Bateria deu uma lustrada no Corcel amarelo. Lustrou a caranga. Ficou um brinco. Dissolvi um pouquinho de amaciante e joguei dentro do carro para dar um cheiro. Coloquem as almofadas do Batman e do Zorro. Sou tarada por homens de máscaras.
Lolosa estava muito simplesinha, não gostei. Falou um “grio”. Tava apagada mais do que poste de rua. Parecia uma bigodón (mulher macha). Será que a Lolosa tinha virado caminhoneira?. Tô achando que ela cagô no maiô. Precisa de Rivotril. Apagou o “paiêro” na sola do pé.

O restaurante tava cheio e a nossa mesona lá. Fumaça de cigarro, aquele cheiro de pinga. Tinha cerveja Mãe Preta, refrigerante Piccolino, cachaças Queimas Rosca, Consola Corno, Xixi de Virgem, Uátizapi e Chora no Pau.Tinha um tal de “cuvé”; um tal de antepasto (pra mim é quando eu explicava lá no Canavial: “é pra lá do pasto do Zé”). Tinha mandioca dura pra caralho. Umas bolinhas que eu achei que fosse queijo (era margarina. Coloquei tudo na boca, foi derretendo, escorrendo pela boca). Ai, que vergonha. Tinha torrada “mucha”. A janta era feijoada “compreta”.
Fiquei sentada diante do segurança Letsgo. Tesão. Os pelos “dos peito” dele saltava nos meus “zoio”. Para cada piscada que eles me dava, meu corpo “triia”. Comecei a passar a minha sandália de salto rolha na canela dele. O que me atrapalhou foi sí a sombra do glitter que caiu dos “zoio”. Parecia que tinha um caminhão de areia nos meus “zoio”. Aquela sombra ordinária que eu comprei, a Acorda Bonita.

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Ficou todo mundo bêbado. Lolosa miou. “Como que nós vamos simbora?”. Lolosa falou: “sou macho, eu vou”. A bicha dirigiu e “nóis “ ainda pegou uma cerveja no caminho. Meu Corcel chegou. Deixei a Lolosa em casa e concluí que Deus está do lado dos bêbados.
Passei a noite inteirinha sonhando com o Letsgo. Ele me pegava no colo e guardava minhas costas, minha frente e todo o resto, enquanto eu cantava igualzinho a “Uitinei Ruisto”. Acordei toda molhadinha. A Lolosa tem razão, mulher de bexiga miúda não pode encher a cara…

Luciene Garcia

É jornalista e criadora da personagem Lulu do Canavial.

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