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As mil e uma noites de Sofia Salomão

Alf Lailah oua Lailah (título original de ‘As mil e Uma noites’) é um dos mais fascinantes compilados  de narrativas árabes, armênias, egípcias, persas, indianas, nômades do Saara que nascem da tradição oral dos beduínos e ganham imortalidade pelas páginas de um livro. Contos muito sinestésicos – descrição de elementos que tocam a sensorialidade do leitor -, tanto e de tal modo, que forjaram, no imaginário coletivo, estereótipos bastante marcados acerca do Oriente: basta pensarmos nas histórias de Sherazade – personagem que é um dos maiores símbolos de resistência de todos os tempos, para evocarmos elementos dourados, rendados, brilhantes, ornamentações coloridas, lâmpadas mágicas, tapetes voadores, tâmaras com amêndoas açucaradas, narguillés.

No Marrocos

Sofia Salomão, francana-brasileira-sírio-libanesa-muçulmana convertida, tem 12.775 noites de vida, e é administradora e CFO (responsável financeira) da filial brasileira de uma multinacional americana em São Paulo. A caminho de suas próprias “mil e uma noites”, ela possui uma relação muito especial com o Marrocos, país situado no Norte da África e banhado simultaneamente pelos oceanos Atlântico e Mediterrâneo: é casada com um marroquino e tem com ele um bebê de 270 noites, que já veio ao mundo situado em três cidadanias: franco-brasileiro-marroquino. Pode-se dizer, pelas fotos, que o casamento de Sofia, em Rabat, foi a própria revivificação da tradição marroquina, no máximo que esta possui das influências das culturas berbere, árabe e europeia – do imaginário de Alladin, com acento mourisco resplandecendo à vista.               

Conexão

Já conhecedora das particularidades locais, Sofia recomenda, para quem se aventure pelo país, quando o turismo puder ser retomado, que se visite o Marrocos começando pelas cidades imperiais, especialmente Rabat, Marrakech e Fes. Que se passeie pelas montanhas do Atlas, com beleza natural e riqueza cultural berbere. E que se tenha alguma experiência no deserto. Sim. Desertos podem ser metafísicos, penso.

A ascendência árabe da moça parece ter ressoado tão intensamente nos laços com a nova família oriental, que Sofia Salomão criou uma página, agora desdobrada em blog no Instagram intitulado Senhorita Marrakech.  “Comecei a pensar em como poderia usar a minha voz para aproximar o Marrocos do Brasil. Por mim. Pela minha família.  Porque também sou fã da arquitetura marroquina e dos itens de decoração, da culinária etc. A ideia do blog vem no propósito de ‘educar’ as pessoas sobre a riqueza cultural que está por trás de cada artigo de decoração de lá”, conta ela.

O Zellige

Senhorita Marrakech é uma página bem escrita e bem ilustrada sobre a cultura marroquina, com peculiaridades turísticas, gastronômicas, culturais, curiosidades e imagens deslumbrantes. Lá o leitor saberá, por exemplo, sobre a arte Zellige, um marco estético de estilo no Marrocos. “Os mosaicos coloridos e geométricos, responsáveis por embelezar as fotos dos turistas e por decorar os riads (casas tradicionais marroquinas localizadas nas medinas), são chamados ‘Zellige’. Esta modalidade artística virou um dos selos da arquitetura marroquina. Nasceu no século X e evoluiu no século XVII, ganhando as cores amarelo, azul, vermelho e verde. Dizem que surgiu da necessidade dos artistas muçulmanos de criarem decorações evitando representações de seres vivos (proibida pela religião). A técnica artesanal e a matéria prima foram preservadas até os dias de hoje. Por sua beleza e complexidade, a decoração pelo Zellige continua sendo sinal de luxo e sofisticação. Os marroquinos utilizam a arte para decorar pisos e paredes das casas, mas também das mesquitas e fontes de água nas medinas. As formas geométricas características viraram uma estampa para vários outros artigos de decoração de bom gosto, como mesas, pratos, luminárias”, explica Sofia.

Senhorita Marrakech

 “Um mercado marroquino é cheio de gente. Todo mundo falando uma língua diferente. Nada precificado. Tudo negociado e renegociado. Toda a oferta possível disponível – de pão até puffs de couro. De itens muito básicos até joias, tapetes e obras de arte. Todo o tipo de negócio existe por lá. É possível até tirar foto com serpente no pescoço. Imagine que cada loja oferece um ‘portfólio extenso’ e cada vendedor procura te conhecer, falar a sua língua, te contar sobre a história da peça/artigo que você está interessado (a) e te convencer sobre a compra e o preço proposto”, finaliza.

O e-commerce Senhorita Marrakech deverá ser um microscosmo de um souq, um mercado marroquino, focalizado em peças decorativas – luminárias, cerâmica, tapetes, prataria.

Em 101 noites, muito provavelmente ou quando as fronteiras se abrirem, as peças Zellige devem estar no Brasil. Vida longa à Senhorita Marrakech!

 Vejam lá no Instagram.

Vanessa Maranha

É Psicóloga, Jornalista, Escritora Premiada, colunista da FF.

6 Comentários

  1. Muito honrada com a matéria, Vanessa. Muito obrigada por sua generosidade ao contar as minhas histórias e sonhos. Sou sua fã. Beijo!

  2. Gostei muito de sua publicação. Estive em Marrocos em dezembro de 1986. Voce acabou de levar a esse lindo lugar com sua reportagem. Parabéns

  3. Parabéns pela reportagem! Muito feliz em saber que agora temos a oportunidade de estarmos mais próximos desta linda e rica cultura ! Já acompanhando o blog da Sofia ❤️!

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