Inspirados
Amando Amós
A que servem as tuas aptidões,
Se não as reconheces como dons?
Vens, arrogante, cheio de senões,
Como o melhor dos que são bons.
O fazer bolo sem farinha
Está na receita da quiromancia.
Colhendo uvas fora da vinha,
A fé se fermenta na profecia.
A rudeza de teu semblante
Te capacitas às lidas da agricultura.
Cuidas de gado, ignorante,
À sombra de sicômoros vês secura.
Que vês tu, profeta menor?
– Descrença em Deus e idolatria.
Cada um por si, e, pior,
Valores morais em agonia!
As causas do sofrimento, tantas,
De um ser egoísta, semideus.
Tivesses a ética das antas,
Serias escriba dos saduceus.