Hidrorragia
Tarde de agosto, de sol escaldante,
Do inverno pouco lembrava,
A não ser pela manhã, brilhante,
Com temperatura amena, se insinuava.
Quase cinquentas dias sem chuvas
De olho no céu, atrás de nuvens escuras,
Viraram mania os lamentos de viúvas
E de órfãos dos tempos de securas.
A crise hídrica desperta consciências
Na base da lei da ação e reação.
Falta de planos, de investimentos: imprevidências,
Revoltas do clima vêm; não tem perdão!
Fazer cada um a sua parte? Sei lá!
No clube, na lavoura, no vizinho e em casa,
Água jorra à vontade, serve de vassoura e pá.
O que do racional será se o espeto virar brasa?
Antes que a noite o seu plantão assumisse,
Na anemia profunda do poente desmaiando,
Deu de beber para que cada planta se abrisse
No sorriso molhado da vida que está escasseando.
Ao perceber a festa no jardim
Na atmosfera fresca criada com economia,
Viu sapinhos, vasos, cascalhos; um querubim;
E os gnomos que somos na agenda do dia.