Opiniões

Aprendizagem on-line ou off-line?

O título não se trata de uma discussão sobre o ensino híbrido e, sim, sobre o que fazemos com nossos filhos após as atividades escolares. Em tempos de pandemia, as aulas remotas foram o que mantiveram nossos estudantes nas escolas, cumprindo os dias letivos, recebendo os conteúdos, talvez não tenha sido o melhor, mas foi o possível!

Nossa reflexão é sobre o tempo que sobra após as aulas e ainda assim nossos estudantes continuam on-line. Isso é bom para a aprendizagem?

Dia desses fui a uma padaria numa região nobre da cidade, me acomodei na “varanda” e fiz meu pedido. De repente o som de um “filminho” vindo do salão dispersou minha atenção da conversa, procurei com os olhos de onde vinha aquele som. Logo vi numa mesa distante uma criança distraída com seu tablet, os adultos presentes conversavam naturalmente, entendi então que aquela cena naquela família era comum, ninguém percebeu que o som estava alto, ou que a criança não estava inserida na reunião familiar.

Naquele momento muitas reflexões vieram à minha mente, inclusão na era digital, as telas e as regras sociais, as vantagens e desvantagens das telas para a aprendizagem, até que ponto as mídias são aliadas?

Trago então algumas informações além dos meus olhos, para refletirmos sobre o excesso de telas e o desenvolvimento da aprendizagem.

Um recente estudo relacionou o uso excessivo de mídias digitais ao desenvolvimento de habilidades motoras pobres, atraso na fala, maior irritabilidade entre as crianças, e diminuição das horas de sono.

A neurociência em seus diversos estudos aponta que a faixa de luz presente na maioria das telas contribui para o bloqueio da melatonina, hormônio que regula o ciclo do sono e da vigília, necessários para o crescimento corporal e mental (Lima, 2005a). Isso explica a dificuldade de dormir e manter uma boa qualidade de sono profundo, fundamental para o desenvolvimento das memórias. Outro ponto tratado é o formato do dispositivo, a tela plana e sua verticalização, entre outras características, podem incidir em um déficit de orientação espaço-temporal, limitando a capacidade de exploração do mundo real.

Os problemas de memória podem ser percebidos com facilidade entre nós adultos, alguém sabe o telefone de um amigo de memória?

A tecnologia deve ser uma aliada, não deve substituir as experiências, a convivência, o desenvolvimento da oralidade, e das percepções.

As atividades físicas são fundamentais preditores para a aprendizagem inclusive do corpo, conhecimento prejudicado quando não há a experiência de profundidade, e de relações, já que as telas têm apenas duas dimensões,

Sabendo disso cabe aos pais, o limite, estar presente de corpo ainda é melhor que estar on-line, muitas famílias falam com seus filhos/as adolescentes dentro de suas casas por meio de aplicativos de mensagem, distanciando ainda mais as relações, e a convivência. Lembro que conviver é componente curricular nos campos de experiência da educação infantil segundo a BNCC, portanto, sejamos o bom exemplo que nossos filhos precisam seguir.

Mais presença, menos on-line e mais off-line.

Deixo como referência alguns alertas de saúde de crianças e adolescentes associados à era digital

  • Problemas de saúde mental: irritabilidade, ansiedade e depressão
  • Transtornos do déficit de atenção e hiperatividade
  • Transtornos do sono
  • Transtornos de alimentação: sobrepeso/obesidade e anorexia/bulimia
  • Sedentarismo e falta da prática de exercícios
  • Bullying e cyberbullying
  • Transtornos da imagem corporal e da autoestima
  • Riscos de exposição à sexualidade, nudez, sexting, sextorsão, abuso sexual, estupro virtual
  • Comportamentos autolesivos, indução e riscos de suicídio
  • Aumento da violência, abusos e fatalidades
  • Problemas visuais, miopia e síndrome visual do computador
  • Problemas auditivos e perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR)
  • Transtornos posturais e músculo-esqueléticos
  • Uso de substâncias tóxicas como nicotina, vaping, bebidas alcoólicas, maconha, anabolizantes e outras drogas

(Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos relacionados

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo