Opiniões

O Luto e a Luta

Por Eliane Sanches Querino

Certamente conhecemos alguém que se foi por conta da pandemia, talvez felizmente não tão próximos a nós. Fico imaginando esse luto estranho, em que se mantém distância, não se toca, não se despede direito de quem se foi, tudo cercado de medo e pânico e pranto. Rostos anônimos se somam ao de pessoas famosas numa fúnebre festa democrática que, finalmente, inclui a todos no mesmo barco. A dor, o luto, a perda são iguais para todos. Mas a pandemia escancara a desigualdade social que sempre assolou o país, desfavorecendo os mais vulneráveis que ouvem alheios às regras: ‘Fique em casa!’ Como???

Vivemos o luto das pessoas que perdemos e também a perda de nós mesmos, das nossas referências, da nossa identidade, da nossa própria vida. Temos que reconstruir nossa imagem como pessoa e como família. O porta retratos da sala mostra uma coisa que mudou muito. O luto pela alegria de viver, pela paz, pela fé; o luto pelo que não vivemos e nem jamais o faremos; o luto pelo que ainda de mal nos virá…

Vivemos ainda o luto de nossas carreiras, empresas, empregos e sonhos. Uma grande incerteza, maior que nunca, paira sobre nós e nos afasta da nossa autoimagem que nos olha de soslaio da selfie no perfil do aplicativo. Fantasmas assombram nosso sono: desemprego, falência, quebradeira, e o pior deles: a desonra…

Mergulhar em tanta dor é tentador… Abraçar as perdas, murchar, encolher, podem até oferecer um certo conforto, e é necessário em um primeiro momento. Mas a diferença de luto e luta é de uma vogal apenas.

Não adianta entregar os pontos. Não chegou a nossa vez ainda. Se sobrevivemos até agora é preciso usar essa chance que nos foi concedida para fazer algo de bom!!! Ajudar as pessoas, passar alegria, humor, vontade de viver… Contaminar com energia e não com pessimismo. Descobrir um propósito novo a cada novo dia!

É preciso saber viver em tempos de guerra. Me lembro de Roberto Bellini em ‘A Vida É Bela.’ Simulando uma brincadeira para que seu filho sobrevivesse ao rigor de um campo de concentração nazista. Às vezes me vejo como ele… palhaço, malabarista, mágico  ou ilusionista, sei lá, mas certamente personagem de uma peça que a vida nos pregou. Poderia ser espectador dessa peça e pagar para  aplaudir essa tragédia. Mas escolho ser a protagonista que muda o roteiro da peça e transforma o seu final para incluir esperança e fé! E um final diferente, surpreendente…

A escolha é sempre nossa… O poder está dentro da gente, um resgate difícil e doloroso de se fazer em tempos de luto. Que dilacera as entranhas e as expõe de forma embaraçosa. Mas essa luta vale a pena!!! Enfrentar essa nova realidade munida apenas de máscara, álcool em gel e uma puta de uma coragem. Lá vou eu!

Eliane Sanches Querino é diretora executiva da KNOW-HOW, professora de inglês e empresária. É líder e uma das fundadoras do Grupo Mulheres do Brasil.

Eliane Sanches Querino

É diretora executiva da Know How. Professora de inglês e empresária. É líder e uma das fundadoras do Grupo Mulheres do Brasil.

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