Opiniões

O Sonho de Vladimir

Não é simples entender as razões lógicas que colocam o mundo novamente sob ameaça de uma guerra de proporções mundiais, com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Mas o motivo real, efetivo, que não é nada lógico, é fácil de notar pelas contradições do presidente russo, quando diz que ataca a Ucrânia para proteger cidadãos russos e ucranianos pró Rússia, que vêm sofrendo perseguição pelo regime de Kiev (ou seja, o governo ucraniano).

Na prática, o motivo do ataque russo é que Vladimir Putin precisava mostrar poder perante a OTAN, além de acalentar o sonho de restabelecer as fronteiras da Rússia no lugar que estavam ao tempo da extinta URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que ficou conhecida como União Soviética. Em vários pronunciamentos, o presidente russo tem afirmado que considera ofensivo à Rússia a inclusão dos países bálticos (Estônia, Lituânia, Letônia) e da Ucrânia, países que até 1991 integravam a URSS) na OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte. Inobstante, em momento algum ofereceu refúgio a esses cidadãos, ou tentou negociar com a Ucrânia essa questão.

O que assombra é a frieza com que o líder da nação mais armada do mundo, segundo os especialistas, manda bombardear um país vizinho sob fundamentos contraditórios e falsos, como aquele que difundiu à população do seu país, de que ataca para defender o território russo e o seu povo! Não há muito de novo nisso, porque as guerras, em quase todos os casos, são uma ação estúpida, fundada na vaidade e na megalomania.

Hitler, um dos líderes recentes que causou grandes perdas à humanidade por conta de paranoias e ódio desmedidos, talvez seja um dos poucos que justificaram a guerra para os que o combateram. Mas causou, além dos horrores às vítimas inocentes das suas megalomanias, prejuízos imensos ao povo alemão que governava. Esse fato precisa ser lembrado sempre quando, nos regimes de liberdade, é feita a escolha daqueles que vão governar.

Joe Biden, o presidente americano, tem sido criticado por alguns jovens jornalistas e outros tantos, por ter sempre adotado postura serena ante as bravatas e ameaças de Vladimir Putin. Acham que ele não mostra a mesma firmeza que o presidente da Rússia nos seus pronunciamentos.

Mas, para o mundo, seria bom que Biden se igualasse a Putin e prometesse retaliar na mesma medida a invasão da Ucrânia?

Ou que propusesse à OTAN defender a Ucrânia, que por razões internas não integrou o tratado de defesa mútua, que é finalidade daquela organização?

Não se pode esquecer que a Rússia é detentora de ogivas nucleares capazes de destruir a Terra por pelo menos umas duas vezes, dizem os especialistas. E os americanos também possuem artefatos de defesa nucleares se não iguais, quase da mesma proporção. Naturalmente que o presidente americano não quer ser lembrado pela história como líder presidente que, ao lado de Putin, deu início à terceira grande guerra. Até porque, certamente existe uma chance de que nem haja história após essa conflagração!

Mundo afora, certamente o confronto já tem partidários ideológicos, como ocorreu nos tempos da Guerra Fria envolvendo os EUA e a URSS e em todas as outras conflagrações. Seja qual for o partido que se tome nessa guerra fratricida – porque, os povos russo e ucraniano têm mais pontos em comum do que antinomias – não há razão lógica nenhuma para acreditar que Vladimir Putin esteja fazendo algum bem para a humanidade ou para os povos envolvidos no conflito, reerguendo a antiga cortina de ferro e sufocando nações diversas sob o seu jugo, como ocorreu na também antiga União Soviética, apenas para realizar o sonho arrogante de protagonismo e de poder.

Dr. José Borges

Advogado (Formado em Direito pela Faculdade de Direito de Franca); especialista em Direito Civil e Direito Processual Civil e em Direito Ambiental. Foi Procurador do Estado de São Paulo de 1989 a 2016 e Secretário de Negócios Jurídicos do Município de Franca. É membro da Academia Francana de Letras.

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