Opiniões

O Tempo como solução dos problemas

Em mais de seis décadas de existência, nunca vi um panorama tão sombrio em relação ao futuro do Brasil como o de hoje. A insensatez campeia em quase todos os setores. Parece que tudo decorre do momento singular em relação às possibilidades de manifestação do pensamento por que passa a humanidade. Qualquer pessoa munida de um smartphone pode manifestar suas opiniões sobre quaisquer assuntos nas redes sociais.

Essa possibilidade é, na verdade, bastante salutar. Afinal, nos regimes democráticos, a liberdade de expressão ou de manifestação do pensamento é direito dos mais caros. Mas, surpreende a irresponsabilidade, a maledicência e a ingenuidade com que as pessoas usam desses direitos em lives, textos ou em montagens editadas com informações falsas ou distorcidas.

O que mais assusta é a constatação do quão incultas e suscetíveis de manipulação são as massas. Surpreende o número de pessoas que, de verdade, são incapazes de entender, por exemplo, como podemos viver em um planeta esférico. Pensam que se a Terra fosse esférica, da sua superfície veríamos a sua curvatura… Ou não acreditam que seja possível “viver sobre uma bola sem cair”.

Naturalmente porque não são capazes de compreender a dimensão gigantesca do planeta e a sua relação com a dimensão dos seres humanos. Menos ainda são capazes de compreender a gravidade que nos mantém estáveis na sua superfície. Daí porque a tese do terraplanismo ainda ter boa aceitação no século XXI!

Em 1969, nos tempos de ginásio, eu trabalhava em uma pequena fábrica de calçados. Ouvíamos rádio AM praticamente o dia todo. A fabriqueta contava com poucas máquinas. O trabalho era basicamente manual. E a cada hora a programação da rádio, que tocava músicas da jovem guarda, era interrompida para que fossem dadas notícias importantes. As que mais me interessavam vinham dos Estados Unidos, dando conta do sucesso da Apolo 11, que levava os primeiros homens à Lua.

A propósito disso, um colega de trabalho me confessou que tinha sérias dúvidas sobre a veracidade daquelas notícias. Lembrei-o de que os aviões, que qualquer um de nós podíamos ver cruzando os céus, eram prova que foguetes mais sofisticados podiam levar o homem para fora da Terra. Mas foi aí que o colega confessou a sua maior desconfiança: “Que o foguete possa ir até a Lua eu até acredito, mas como é que eles vão entrar lá? Ela não é de pedra? Eles vão furá-la pra entrar?” Não é chacota. Há muita gente que tem esse tipo de dúvida.

Daí, quando uma dessas pessoas, que são dezenas de milhões, tem acesso aos meios de comunicação direta pelas redes sociais e cria coragem para externar suas desconfianças, encontra enorme repercussão e apoio. De modo que o imenso universo das Fake News, sob comando de grupos desonestos que dele tiram proveito, aí incluídos autoridades públicas e políticos, também está cheio de pessoas simples e de boa-fé que nele divulgam sua visão de mundo ingênua e afastada da realidade e da Ciência. E que são enganadas pelos desonestos.

Em conversa com um amigo, ouvi que o tempo é o mestre e benfeitor que nos ensina vida afora e nos permite corrigir nossos erros. Eu acrescentaria que o que concebemos como tempo – que a rigor, segundo a Física, nem existe de fato – é o melhor mecanismo de solução dos problemas que nos afligem. Na verdade, o que apreendemos da vida é uma de sucessão de acontecimentos que acompanhamos parcialmente, conforme vão ocorrendo rapidamente… Nada nessa vida é estático.

Tudo pode ser refeito em outros patamares mais adiante. Tudo vai se ajustando naturalmente. Quanto às ingenuidades manifestadas nas redes sociais, não são coisa grave. Certamente se ajustarão com o tempo. Quanto aos grupos de desonestos privados que atuam na internet, é preciso aumentar os rigores das leis. E por fim, quanto aos políticos desonestos, aguardar que o tempo passe, não basta. Eles são bem adaptados a ele e fazem as suas próprias leis. As eleições são o melhor caminho para afastá-los do nosso caminho!

Dr. José Borges

Advogado (Formado em Direito pela Faculdade de Direito de Franca); especialista em Direito Civil e Direito Processual Civil e em Direito Ambiental. Foi Procurador do Estado de São Paulo de 1989 a 2016 e Secretário de Negócios Jurídicos do Município de Franca. É membro da Academia Francana de Letras.

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