Opiniões

UM FERIADO PARA PENSAR…

Em plena quarta-feira de pandemia, o dia 21 de abril nos trouxe um feriado meio frouxo. Daqueles até inúteis, pode-se dizer. Atrapalhou a produção de muitas indústrias, desmotivou muita gente que foi trabalhar normalmente e deu um descanso esquisito para outros tantos, exigindo muita criatividade para aproveitá-lo. Como não sou desses muito criativos e ainda tive que acordar no mesmo horário de sempre para levar meu inconformado filho na escola, acabei me voltando para o pouco que sei sobre a história desse movimento e desse personagem, ambos já um tanto esmaecidos na memória historicamente diluída do povo brasileiro.

Comecei com meu filho, no caminho para a escola. Enquanto ele reclamava daquela inesperada reposição de aula, fui fazendo algumas conexões entre o que aprendi sobre a Inconfidência Mineira em meus tempos de estudante e como eu a percebia agora, mais de 40 anos depois.

E a primeira coisa que disse ao meu filho, enquanto o portão se fechava e eu colocava o carro na rua, foi que o nosso grande herói era um ardoroso sonegador de impostos! Meu filho me olhou de modo estranho, enquanto eu sorria satisfeito com aquela conclusão historicamente provocadora. E aí fui me empolgando.

A insaciável coroa portuguesa estava sufocando não apenas o povo mineiro com suas altas cargas tributárias, mas também as elites. A ganância real era tanta que até mesmo a classe dominante, geralmente parceira na exploração, também estava chegando ao seu limite. Com o anúncio da Derrama, que praticamente levaria a falência vários componentes das classes mais abastadas, iniciou-se então um processo de conspiração envolvendo políticos, poetas, padres, empresários e, para variar, poucos representantes das camadas mais populares.

Apesar de contar com todo esse aparato de pessoas importantes da localidade, a insurreição acabou não dando em nada. Aquele velho problema da traição, comum em nossa sociedade. Da mesma forma que Judas traiu Jesus, Caim traiu Abel, Brutus a Júlio César, Joaquim Silvério dos Reis também resolveu denunciar a conspiração em troca da absolvição de suas dívidas. E o resto todo mundo já sabe. O exército real caiu em cima “dos traidores”, prendeu todo mundo, matou apenas Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que não era membro das elites, e acabou com aquela ideia que nem chegou a ser colocada em prática.

Ainda no caminho para escola, para desespero do meu filho, comecei a considerar a atualidade dessa história. Apesar de não termos mais a família real, penso que acabamos ficando com a côrte, aliás daquelas bem custosas. É só pensar em Brasília. Auxílio paletó para deputados, centenas de carros e motoristas para levar familiares de políticos e funcionários de todas as esferas para qualquer lugar, jantares caros e desnecessários e muitos outros gastos extravagantes, se comparados ao cotidiano da maioria dos brasileiros.

No fundo, me parece que não acabamos com a realeza, apenas a transferimos, de Lisboa para Brasília. Vejam como os ministros do STF, também chamados de ministros da Côrte (tão vendo!), quando colocam aquelas togas, proferindo palavras do século XVIII, ficam parecidos com os oficiais da Côrte Portuguesa!

Quando parei em frente à escola, meu filho desceu correndo, acho que já cansado de tanta empolgação, talvez para ele um pouco sem nexo. Ao tomar o caminho de volta, emudeci as palavras e deixei as ideias só nos pensamentos. Mesmo acabrunhado por não ter mais um interlocutor, fechei o raciocínio pensando que já estava na hora de aparecer um novo herói dos impostos nesse país. Um herói capaz de lutar contra os impostos que devassam nossa economia, que dificultam a vida dos empresários, que diminuem a possibilidade de emprego e que atrasam o nosso desenvolvimento. Um herói capaz de organizar uma conspiração para separarmos Brasília do restante do país, o que nos daria um incrível alívio financeiro.

Ao chegar em casa e colocar o carro na garagem, fiquei pensando apenas em quem seria o traidor dessa nova conspiração. E viva o Brasil! O país dos impostos!

Mauricio Buffa

Especialista em generalidades. Muitos anos de estudo e trabalho, desafiando ideias e colhendo incertezas. Cada vez mais convicto de que o universo é uma harmonia de contrários!

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